29 de abril de 2009

Reservoir Dogs (Cães Danados)


"reservoir dogs"
1992 . EUA . 99’
realização
Quentin Tarantino
argumento
Quentin Tarantino
Roger Avary
fotografia
Andrzej Sekula
supervisão musical
Karyn Rachtman
montagem
Sally Menke
com:
Harvey Keitel
Tim Roth
Michael Madsen
Chris Penn
Steve Buscemi


Foi através deste filme que entrei no "Universo Tarantino" e trata-se sem dúvida de um filme marcante. Ainda hoje está no "lote dos meus filmes preferidos de sempre".

O filme estreou em 1992 e foi o primeiro filme escrito e realizado por Quentin Tarantino.

Não foi um grande sucesso à época, mas hoje é encarado como uma verdadeira obra de culto.

> Engenho narrativo. Tarantino gosta de
contar histórias. Percebemos isso logo neste
primeiro filme. E nos filmes seguintes. Ou em
qualquer entrevista com o realizador. A arte
de narrar não é algo simples, não é uma
faculdade democrática. Será um privilégio,
uma vocação. Tarantino, cinéfilo de
videoclube, sabe bem que parte da força
histórica do cinema lhe vem da sua capacidade
para engendrar ilusões, manipular
expectativas, surpreender ou desconcertar (as
dedicatórias a Corman ou Godard são, de
modo diverso, ilustrativas disso mesmo).
Intrínsecos a toda a boa ficção estão o artifício
e o engano: a verdade da mentira. Tarantino
sabe que mais que o conforto, o espectador
premeia a provocação. “Reservoir Dogs” é um
filme narrativamente provocador. Recorrendo
ao flashback faz a história recuar e abrandar
para não nos empurrar logo para o precipício.
Começa a história a meio. Acaba no momento
certo: um, dois, três, quatro tiros e um ecrã
negro fazem ecoar no espectador a tristeza, a
dor e a traição.




> Calão. Os personagens de “Reservoir
Dogs” falam muito. Gritam, ironizam,
reclamam, reivindicam, comprometem-se.
Não é uma linguagem polida. Pelo
contrário: é a linguagem do gang, da rua,
do underground. Chega a ser hilariante.
Pode também ser irritante. Um diálogo
pode ser um número de circo ou um estudo
sobre as texturas, os timbres, os ritmos do
discurso. Os personagens disparam as
palavras com a mesma destreza – muito
masculina, heróica e nostálgica – com que
sacam as armas. Contam histórias, muitas.
Nenhuma particularmente edificante.
Algumas raiam o absurdo. Percebe-se que
Tarantino adora jogos de linguagem. Há
pessoas assim: usam o verbo como um
trapézio.


> Violência. “Reservoir Dogs” é um filme
violento, sem dúvida. Nem durante, nem
depois do filme é fácil o apaziguamento.
Pensemos na cena emblemática do filme, a
“cena da orelha”. Para o espectador, a
violência é aqui do domínio do intolerável, do
inaceitável, do invisível mesmo. Prefere a
cegueira, vira o olhar, força a ignorância para
se proteger. O espectador não quer ver, e no
entanto não consegue deixar de ver aquilo que
não lhe é mostrado: mesmo se Tarantino
esconde, a imagem de violência fica, de modo
inapelável, gravada na mente.

Sem comentários:

Enviar um comentário